Os dias longos e o tempo mais quente são sinónimo de férias escolares, que trazem consigo algo que nem sempre se vê: a oportunidade de encurtar distâncias (in)visíveis entre pais e filhos. Vive-se uma época marcada pela pressa, pela impaciência, pelo olhar fixo nos ecrãs e pela ausência disfarçada de presença. Olhe, então, para estas férias como uma oportunidade para passar pelo tempo sem pressa, escutar com o coração e conversar com afeto.
No meio da azáfama das férias, ainda contaminada pela agitação do resto do ano, perde-se, muitas vezes, uma possibilidade muito favorável para resgatar algo de que os pais muito se vão queixando hoje em dia: a distância dos filhos.
Facilmente se coloca a responsabilidade dessa distância nos ecrãs, nos jogos e nas redes sociais. Mas não será esse apego aos ecrãs uma consequência de algo? Serão os ecrãs o motivo de afastamento ou o preenchimento de algo que está em falta? O que estarão estes ecrãs a substituir?
Não raras vezes, é a ausência de conexão, de tempo, de afeto disponível que leva as crianças e os jovens a procurar nos ecrãs aquilo que não encontram no contacto diário com o outro. Assim, vemos estas crianças e jovens a caminhar para um “refúgio emocional”, onde há disponibilidade constante e onde não há julgamento. Como consequência, surgem cada vez mais alterações de comportamento, de humor, ansiedade, menor capacidade de foco e cada vez menos interesse e capacidade em se relacionarem com os outros e com a vida real.
Perante este cenário, é natural que os pais sintam alguma impotência, dúvidas, inseguranças ou até culpa. Provavelmente, também se perguntam se ainda vão a tempo de recuperar a relação ou se os laços já se perderam. E que bom que é todas estas questões e dúvidas surgirem, pois é sinal de consciência, preocupação e de que há disponibilidade para refletir sobre a relação, reconhecer falhas e procurar caminhos de mudança.
As boas notícias? É possível, aos poucos, ir reparando o vosso vínculo. Como? Através de momentos simples, mas com uma enorme capacidade de trazer mudança.
Aquilo de que o seu filho mais precisa é de se sentir ouvido de forma sincera, de se sentir verdadeiramente visto e compreendido e menos julgado e corrigido. E tudo isto pode surgir, por exemplo, num momento de caminhada à beira-mar, na preparação de uma refeição para a família, num jogo de perguntas e respostas, num piquenique no jardim perto de casa ou num momento de aconchego antes de adormecer. São momentos como estes, em que se sente escutado e visto, que fazem o seu filho sentir-se seguro, que realmente é importante e que surgirá vontade de melhor comunicação e maior partilha.
Que o investimento feito nestes momentos de verão, seja prolongado pelo resto do ano, entre as rotinas de trabalho, escola e atividades extracurriculares, com pais interessados e envolvidos nos assuntos mais profundos que dizem respeito ao seu filho.
Lembre-se: o seu filho não precisa de pais perfeitos! Precisa de pais presentes e disponíveis emocionalmente. Quando os filhos têm uma ligação profunda com os pais, tornam-se mais recetivos à orientação, mais abertos ao diálogo, facilitando o caminho da educação e do desenvolvimento emocional saudável.