Anualmente o Seminário da Rede Construir Juntos reúne técnicos das instituições parceiras da Rede e é uma importante iniciativa ao permitir a abordagem de temáticas de interesse para os parceiros, a reflexão e a partilha de boas práticas.
Este ano, e na impossibilidade organizar o Seminário em formato presencial, O Instituto de Apoio à Criança, enquanto mediador nacional da Rede Construir Juntos, promoveu no passado dia 10 de fevereiro o Webinar “Promoção da Participação e Autonomia de Crianças e Jovens”, que juntou mais de 210 participantes, entre técnicos das instituições parceiras da Rede Construir Juntos, mas também docentes, investigadores, estudantes, etc.
Este evento contou com as importantes intervenções da Dra. Dulce Rocha, Presidente do Instituto de Apoio à Criança, da Dra. Ana Cardoso, investigadora do CESIS – Centro de Estudos para a Intervenção Social e da Dra. Joana Antão, coordenadora do Gabinete de Intervenção em Saúde da APDES. Deu-se, ainda, voz a um grupo de jovens que, de forma calorosa e empolgada, testemunharam as suas experiências de participação e autonomia.
A Dra. Dulce Rocha na sua comunicação sobre “A Importância da Participação das Crianças e dos Jovens” salientou a importância da Declaração dos Direitos das Crianças de 1959 como base de inspiração para a Convenção sobre os Direitos da Criança de 1989, documento que amplamente contempla o Direito à Participação das Crianças e dos Jovens, nomeadamente os direitos de audição, de opinião, de liberdade de expressão, de associação, entre outros não menos importantes. Reforçou a importância da educação e da aprendizagem na promoção da participação ativa e de uma cidadania consciente, referindo o importante papel do Movimento da Escola Moderna de Freinet que, ao preconizar uma escola cooperativa baseada em projetos, valoriza a opinião da criança, reforçando naturalmente a sua autonomia e a participação ativa.
De seguida, a Dra. Ana Cardoso apresentou a comunicação “Participação de Crianças e Jovens – obstáculos e efeitos da mudança”, abordando a promoção da participação juvenil como um direito, na ótica do superior interesse da criança, os contextos, os objetivos e os processos participativos. Fez, ainda, uma desconstrução de argumentos que normalmente são evocados para a não participação das crianças e jovens e elencou por fim, os efeitos positivos de uma mudança de atitudes e práticas. De salientar no seu discurs, a tónica na importância da disponibilidade, do tempo e do perfil adequado dos adultos para escutar e promover a participação das crianças e dos jovens, usando a imagem da “Pessoa Super Ouvinte”.
A Dra. Joana Antão, na sua expressiva comunicação “Dar voz às Crianças em Acolhimento: de que é que temos medo!”, começou por afirmar que o grande obstáculo à Participação de Crianças e Jovens é o Medo, sobretudo quando, numa casa, de acolhimento responsáveis por dezenas de crianças e jovens. Fez distinção entre ouvir e ceder, salientando que a capacidade de ouvir não é dizer que sim a tudo, mas estar lá, ser empático e empoderar para tomadas de decisão e envolvimento na vida das casas e no seu processo de autonomia. Apresentou, ainda, algumas estratégias de intervenção possíveis de aplicar em contexto de acolhimento e alguns instrumentos bastante úteis.
Por fim, foi dada voz aos jovens! Foi apresentado um filme com testemunhos dos jovens Muhamadu Seidi, Maria Lopes e Fernando Felix, da Rede Juvenil Crescer Juntos do Polo de Lisboa. Contámos, também, com a presença das jovens Neuza Santos, da Rede Juvenil Crescer Juntos do Polo de Coimbra, Inês Viegas, acompanhada na Ajuda de Mãe e Carolina Semedo Té, jovem ex-acolhida e membro da PAJE. Os jovens partilharam de forma entusiasta, genuína e espontânea as suas experiências de participação na Rede Juvenil Crescer Juntos e salientaram a necessidade de as crianças e jovens serem ouvidos e a importância da valorização da sua opinião e de fazerem parte das tomadas de decisão que lhe dizem respeito, porque muito contribui para um processo de autonomia mais facilitador. Como disse Carolina Semedo, “Os jovens são o futuro! Não podemos descurar a sua opinião!”
Como enfantizou a Dra. Dulce Rocha, numa nota de esperança e apelo à promoção do direito à participação, “Se as crianças sentirem que são valorizadas, que a sua opinião conta, que a sua voz é ouvida, o seu estatuto reconhecido, então isso será muito importante para o futuro!”
Terminámos, assim, este encontro com excelentes testemunhos vividos na primeira pessoa que nos fazem acreditar na participação de crianças e jovens, como um respeito efetivo pelos Direitos das Crianças e fator determinante para o desenvolvimento da sociedade.
O webinar pode ser revisto na íntegra aqui.