O verão é um dos períodos mais aguardados todo o ano por muitas crianças e jovens, é sinónimo de férias escolares, onde a diversão e o convívio estão no topo da ordem do dia e onde todos sonham viver experiências marcantes e cumprir as diversas aventuras que povoam o seu imaginário individual e coletivo.
Para as crianças e jovens que acompanhamos diariamente no IAC, esta é também a sua expectativa e para nós, Projeto Rua, este é um período privilegiado para lhes proporcionar vivências interessantes e inovadoras, que os desafiem e despertem a sua curiosidade e criatividade naturais. Entre montar a própria tenda num acampamento, a aprender como se levantar numa prancha e surfar uma onda no mar, a escalar paredes de rocha utilizando somente a força dos próprios membros aliada à do engenho mental, a fazer um safari num santuário animal, passando pelo arborismo, pelos jogos de laser tag, idas ao cinema, visitas a museus e galerias, passeios a pé e de barco, e por muitas outras atividades; foi sem dúvida um verão muito preenchido com muitas aventuras, brincadeiras e risadas.
Mas a nossa intervenção pretende ir além da simples ocupação de tempos livres: através da componente lúdica-pedagógica, esforçamo-nos para que estas experiências tenham tanto de intrinsecamente apelativo, como de educativo e promotor do seu desenvolvimento integral. A ênfase é certamente colocada no trabalho in loco, tanto individual como em grupo, procurando-se criar um espaço de convivência e diversão, mas que possibilite igualmente estabelecer vínculos positivos e desenvolver diversas competências sócio emocionais, tais como a tomada de decisão responsável e autónoma.
Contudo, ao intervir junto de crianças e jovens cujas estruturas mentais foram possivelmente afetadas por diversas carências e/ou um percurso de desenvolvimento conturbados, teremos de chegar aos mecanismos e zonas de regulação emocional profundas, procurando proporcionar vivências tão intensas quanto positivas, no sentido de tentar recuperar possíveis anos de traumas e criar mecanismos protetores. Pois, tal como defendido por António Damásio, neurocientista português, a nossa experiência empírica também nos leva a crer que a força dos afetos é tal, que a única forma de ultrapassar o impacto semiconsciente causado por um afeto negativo (i.e., uma paixão irracional), requer um afeto positivo ainda mais forte, formulado racionalmente. São estas vivências positivas, que mais tarde esperamos que se venham a assumir como bons
recursos internos e se constituam como alicerces de uma personalidade mais adaptada, contribuindo para o bem-estar biopsicossocial das nossas crianças e jovens.
O que no fundo, é o mesmo de dizer que esperamos que enquanto as nossas crianças e jovens brincam e se divertem connosco, também possam crescer e aprender a ser; e que para sempre, estejam onde estiverem e até nos piores dias de inverno, se recordem destes dias de verão, com um sentimento especial de calor no seu interior.
Agora é tempo de começar o ano letivo e o trabalho continua, para o ano há mais; até lá, o sentimento de gratidão pelas memórias de momentos bens passados e a expectativa por outros que hão de vir, manter-se-ão certamente presentes em todos os nossos corações.