Testimonial: António José de Castro Bagão Félix

Vinte e cinco anos após o seu nascimento, o Instituto de Apoio à Criança (IAC) é uma expressão de excelência. Excelência na génese, no propósito, na metodologia, na liderança, nas equipas que congrega. Excelência, enfim, no exercício exemplar de magistratura social: realizando, prevenindo, inovando, sonhando, humanizando. Numa palavra, amando!

Falando em excelência e exemplaridade, é imperativo falar na obra, talento, sensibilidade e capacidade de unir para vencer, da Senhora Dra. Manuela Ramalho Eanes. É impossível dissociar a obra da pessoa e a pessoa da obra. A “alma” do IAC muito deve a toda a sua capacidade e solicitude provindas de uma visão eticamente exemplar, radicalmente personalista e humanamente inexcedível no afecto pelos que não têm voz ou sofrem no silêncio da indiferença da sociedade.

A autoridade – a verdadeira e genuína autoridade – advém e robustece-se pelo exemplo, seja no plano pessoal ou institucional. Nunca resulta ou perdura pela mecânica imposição de normas exteriores por mais perfeitas que possam parecer. Só o exemplo persistente é que poliniza as boas práticas sociais e humanitárias e frutifica as sementes do futuro. É o que acontece há 25 anos no IAC.

Em resultado de uma linha de actuação tão serena quanto profunda, o IAC é uma ONG que soube conquistar a gratidão de Portugal e o prestígio inabalável no meio internacional. Com todo o mérito o IAC é uma sólida instituição em defesa da criança, combinando com mestria a generosidade, o voluntariado, a partilha, o profissionalismo, a exigência institucional, a investigação social, a multidisciplinaridade das respostas.

Perante a constatação de que o Estado não tem vocação afectiva nem inteligência emocional ou omnisciência social, a Sociedade precisa de organizações que possam substituir o primado da norma rígida pelo dom da sabedoria e partilha humanas.

Neste sentido, o IAC é hoje um património importante da Nação Portuguesa. Tem assentado a sua actuação nos princípios da solidariedade, da subsidiariedade e da proporcionalidade, procurando permanentemente uma resposta preventiva e dignificadora através da inserção educativa e social e da defesa intransigente da protecção dos direitos das crianças e jovens em risco. Sempre recusou uma visão redutora e falaciosa de uma abordagem de “posta-restante social” onde sempre se corre o risco de uniformizar o que exige diferenciação, de massificar o que supõe proximidade e personalização. Pelo contrário, tem pautado a sua acção por uma métrica de senso comum: a de ter em tudo medida e de nada ser medido por demasiado.

Centrada na defesa e promoção inabaláveis do superior interesse da criança, o IAC tem sido pioneiro no modo como conjuga em plenitude o triângulo da esperança: prever, prevenir e reparar. Prever enquanto atitude de inteligência. Prevenir como acto de discernimento. Reparar como expressão de justiça. Por tudo isto associo-me, através deste resumido testemunho, à candidatura do IAC à atribuição do III Premio Rey de España de Derechos Humanos, pois que o Instituto está indelevelmente associado à mais profunda e genuína expressão de promoção e protecção dos direitos humanos.