Intercâmbio entre a inocência e a sabedoria em Sarilhos Grandes

Há duas épocas na vida, infância e velhice, em que a felicidade está numa caixa de bombons. 

 Carlos Drummond de Andrade 

No passado dia 23 de fevereiro, alguns dos nossos jovens do Projeto Educa(CON)dado deslocaram-se a Sarilhos Grandes no Montijo para participar numa atividade intergeracional, com idosos da Academia Sénior de Sarilhos Grandes.  

Este convite surgiu por parte da referida Academia que propôs ao IAC o desafio de organizar um momento de convívio entre as nossas crianças e jovens e os idosos.   

Os nossos jovens tiveram o privilégio de ouvir de viva voz histórias de pessoas que não tiveram tempo para ser crianças; que aos 12 anos já trabalhavam, que iam para o trabalho descalças, de Sarilhos Grandes para o Montijo; que passavam fome; maltratadas pelos pais (com o argumento de uma vida dura e com a cumplicidade do vinho). Não havia nem Direitos da Criança nem Comissões de Proteção de Crianças e Jovens.  

Também conheceram histórias em que a felicidade era encontrada no grande recreio que constituía a rua, onde a alegria e a imaginação andavam de mãos dadas, em jogos como o pião e a macaca. Brincava-se na rua sem medo de gente má; trepavam-se árvores sem medo das prováveis quedas; colhiam-se frutos, sem medo dos pesticidas (que não existiam); ou seja, vivia-se a infância (aqueles que a tinham) de forma mais inocente e saudável.  

Não havia nem telemóveis, nem consolas de jogos. Não se falava nem em diabetes nem em obesidade infantil – porque não existiam.      

Os serões eram passados à volta da lareira a contar histórias que passadas de boca em boca, de geração em geração, garantiam a preservação do conhecimento. 

Este convívio ajudou a formar a convicção que o termo “velho” devia ser substituído por sábio ou experiente; que se não conhecermos o nosso passado, as nossas tradições, a nossa cultura, teremos todos uma identidade mais fraca, mais pobre. O tempo vai passando por todos nós e, se não ouvirmos já os mais sábios, poderemos não ter mais oportunidades para os ouvir.  

No final do dia, fica a ideia que na infância e velhice, a felicidade pode encontrar-se em algo mais barato que uma caixa de bombons; está em algo que todos nós sem exceção somos capazes de proporcionar: amor e respeito. 

 

 

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