Estudo “O que pensam e o que sentem as famílias em isolamento social”

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PRESS RELEASE

O Instituto de Apoio à Criança preocupado com o impacto da pandemia COVID-19 na saúde mental das crianças e das suas famílias, lançou um estudo “O que pensam e o que sentem as famílias em isolamento social” (Salvaterra, F. & Chora, M.) que decorreu em 2 fases: fase I (2021) e fase II (2022), para avaliar aquilo que as famílias pensavam e sentiam em dois momentos da crise pandémica.

Dado o grande interesse que, quer os media, quer a comunidade científica, manifestaram aquando da divulgação da fase I deste estudo, vimos agora divulgar os resultados desta segunda fase.

A fase II teve como objetivo explorar o comportamento parental e o comportamento das crianças e perceber a relação entre a atitude e os sentimentos dos pais e a dos filhos, bem como compreender o impacto que o contexto social pandémico teve na sua saúde mental, mais de um ano e meio após o início da pandemia.

Observámos que os pais apresentaram, em média e percentualmente, níveis de stress inferiores, mas níveis de ansiedade e de depressão superiores aos valores encontrados no início da pandemia (1.ª fase). Os resultados obtidos no que concerne à ansiedade das crianças também vão neste sentido e algumas crianças (7,9%) apresentam um nível de ansiedade acima do considerado funcional. O mesmo se verifica em outras variáveis, como estar triste, com medo, ter dificuldades em dormir ou em concentrar.

Neste estudo, verificámos uma relação entre a ansiedade, a depressão e o stress dos pais e a ansiedade das crianças, com níveis superiores para as famílias que não tinham retomado as suas rotinas como eram antes da pandemia ou tinham-nas retomado apenas parcialmente. Também, o facto de as famílias se terem visto obrigadas a permanecerem mais tempo no espaço doméstico e a adaptarem a dinâmica familiar às exigências do trabalho, dificultando a separação entre estes dois domínios, poderá ter gerado alguma ambivalência e levado ao aumento dos níveis de ansiedade.

Neste estudo pudemos concluir que os elevados níveis de ansiedade, de depressão e de stress dos pais constituem um fator de risco para a ansiedade dos filhos, estando esta relação bem sustentada na literatura. O estado emocional das crianças está associado ao funcionamento psicológico dos pais/cuidadores e com a relação estabelecida entre ambos.

A perceção que os pais/cuidadores têm do estado emocional das crianças, desde que estas regressaram ao ensino presencial e desde que as medidas de restrição começaram a ser levantadas, é, na sua maioria, de que as crianças se sentem seguras, alegres e calmas, o que coincide com as respostas dos filhos. Ainda assim, as crianças continuam a preocupar-se mais com a saúde dos avós, dos pais e dos amigos, e a referir terem, por exemplo, mais dificuldades em dormir e mais apetite do que aquilo que os pais percecionam. Também, o número de pais que referiu que os filhos não apresentam alterações é significativamente maior do que o número de crianças que o reportam.

Pais e filhos mencionaram, novamente, que o tempo em família foi o principal aspeto positivo da situação pandémica e que a falta de convívio familiar (alargado) e social foi o mais negativo.

Face à pandemia e ao futuro, parte dos adultos da amostra evidenciou esperança nos avanços da medicina (i.e., vacinação e tratamentos alternativos). Porém, muitos outros preferem “viver um dia de cada vez”, refletindo a adaptação aos condicionamentos gerados pela pandemia.

Por sua vez, as crianças continuaram a evidenciar como maiores preocupações a saúde e a morte, a pandemia e o futuro e a escola, à semelhança da 1.ª fase do estudo. Contudo, poucas são aquelas que se encontravam pessimistas em relação ao futuro (apenas 5%).

Assim, este estudo traz-nos várias informações a ter em consideração, entre elas:

· A necessidade de os pais estarem mais alerta ou não desvalorizarem o que as crianças sentem e manifestam, de serem sensíveis e responsivos e de estarem atentos às necessidades emocionais das crianças, fornecendo-lhes uma resposta adequada em cada momento;

· A importância das relações afetivas e sociais como fatores de proteção para a saúde mental por se constituírem fontes de suporte emocional e instrumental e fomentarem o sentimento de pertença;

· A necessidade de se repensarem as formas de conciliar a vida profissional ou escolar e a vida familiar, para que as famílias possam desfrutar de tempo de qualidade em conjunto.

Por fim, e apesar destes resultados evidenciarem uma boa adaptação das famílias à situação pandémica, não se deve menosprezar que cerca de um quarto da amostra revela níveis de ansiedade, de depressão e de stress acima do que se considera funcional. Como tal, continua a ser indispensável sensibilizar as pessoas para o impacto da pandemia na saúde mental e garantir que estas tenham acesso aos recursos necessários para fazer face às dificuldades que sentem.

Consultar o estudo aqui

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