Mãos que tecem Felicidade

Na intervenção que realizámos, centrada na criança e no jovem contemplámos igualmente as suas famílias. Sabemos o quanto é importante para o seu desenvolvimento o estabelecimento de relações afetivas, estáveis e seguras. Nos últimos anos, temos investido em ações que envolvem os pais e os filhos, com recurso ao “lúdico”, como meio facilitador para promover experiências gratificantes e abordarmos temas como as emoções, o autocuidado, a comunicação, a resolução de conflitos, entre outros. A equipa tem, igualmente, realizado sessões com os pais com uma componente formativa, onde estes podem partilhar as suas vivências, expectativas e as dificuldades que sentem na educação com os seus filhos.  

Este ano, lançámos o desafio de explorar e refletir sobre a felicidade. A primeira iniciativa decorreu na Fundação O Século, nos dias 10 e 11 de fevereiro, com um fim de semana, em que participaram, 6 mães e 7 crianças e jovens. O mote deste encontro foi “Em busca da Felicidade”. O grupo partiu de algumas definições existentes sobre este conceito, refletiu sobre a “imposição social” de padrões de bem-estar e felicidade que muitas vezes nos fazem sentir aquém do desejável. As críticas internas podem ser de tal forma severas, que minam e desvalorizam o que temos e somos, uma vez que nada parece ser suficiente nem confere satisfação ou plenitude. Este diálogo, entre expectativas, sonhos e realidade, influencia a visão da nossa vida. É, portanto, importante olhar acima do horizonte, ter um espírito crítico, identificar o que nos faz intrinsecamente sentido e o que nos dá sentido. O grupo concluiu que a Felicidade é também um conceito subjetivo, com várias formas de expressão e algo que todos queremos alcançar e manter. Para uns é um estado mais duradouro, mas, sobretudo para os mais novos, é algo considerado mais efémero. A procura da felicidade é inerente ao individuo. Esta busca requerer disponibilidade e tempo de reflexão, algo que na correria dos dias, por vezes, é difícil. Ao proporcionarmos este fim de semana, promovemos essa dimensão espácio-temporal, centrada na pessoa e na relação com o outro, sem a preocupação da rotina diária e dos afazeres domésticos. Foi com igual premissa que propusemos o atelier de tecelagem, enquanto momento propício a esse diálogo, ao envolvimento das mães com os seus filhos, à criatividade e à partilha. Cada família foi tecendo os fios do seu tear, conjugando materiais e cores. Em simultâneo, foi-se transpondo para o contexto familiar algumas considerações que queríamos realçar, como o entrelaçar dos afetos, a cooperação, o colorir das “pequenas tarefas” e a importância de desfrutarem de ações prazerosas que possam realizar em conjunto.  

É necessário ajudar a florescer estes momentos. Neste sentido, apresentámos a proposta de” germinar a felicidade”, em que cada um plantou sementes de girassol e levou o vaso para casa. A escolha desta flor prendeu-se com o seu simbolismo, de alegria, vitalidade, otimismo e criatividade. Através desta experiência simples, pretendíamos também que percecionassem que há um tempo de investimento, anterior à germinação, que cuidar é uma tarefa continua, nada germina sem tempo, sem dedicação, numa espera tranquila. É através do que sentimos e experienciamos que ampliamos o léxico de vivências e acrescentamos “boas memórias”, no baú da nossa existência.   

Terminámos, estes dias intensos e mobilizadores com um balanço bastante positivo e com sugestões para o futuro.  

Regressámos a casa com novos desafios e propostas. No próximo mês, estaremos juntos a explorar semelhanças entre algumas espécies (lobo, leão, pinguim e cão) e a organização familiar. Poderá a felicidade, começar no ninho? Será a toca um lugar de segurança e aprendizagem? As inter-relações que se estabelecem vinculam as gerações vindouras?  

 

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